Só na Multidão

23:48 Sara Crasto 0 Comentários





Abro mão do que sou, perco riquezas da vida, partes da minha alma, da minha essência para fazer sorrir. E a mim, quem abre mão do que é, perde riquezas da vida, partes da alma, da sua essência para apenas me dar uma palavra de apoio, para me fazer sorrir?

As minhas pernas são como troncos cortados com um serrote ferrugento, daqueles que se desdobra em esforço para cortar um simples pau. O que faço para me descontaminar deste corte cheio de ferrugem suja que são as palavras de desânimo e desencorajamento?

O meu coração está como um papel que além de ter sido rascunho de algo, foi todo amassado antes de ser rasgado em mais de mil pedacinhos, que nem alguém muito paciente conseguiria juntar tudo de novo e fazer com que ficasse tudo exatamente igual. O que faço com estes pedacinhos que começam perder-se com o vento da tempestade?

Sinto um nó no peito, as lágrimas nos olhos, aperto com força os meus maxilares para que não caiam. Porque às vezes parece que estou só na multidão?

Sim, sinto-me assim...

No chão, quase a perder os sentidos…

É nessa altura, no chão, que me lembro de quem sou, em quem acredito e que há pessoas que ainda acreditam em mim. Não sou mais que ninguém, mas também não sou menos. Sou alguém. Mas acima de tudo, não sou a copa de uma árvore que sem o tronco não é nada, também não sou o tronco que é cortado e deitado no fogo. Sou a raiz. Raiz que apesar de cortada rente com as palavras e as atitudes, volta a crescer firme na terra. Raiz de um tronco que é aparado e picado na medida certa para crescer saudável. Raiz que no final vai ter uma copa maior do que a que perdeu. 

Essa raiz sou eu.   

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